sábado, 1 de dezembro de 2012

Sobre a nossa semana pós-parto

Ainda no dia do parto...à noite, quando todos já tinham ido embora, meu marido me disse, com toda a calma do mundo (talvez para não me assustar ou talvez porque a fé dele seja maior que a minha) que o nosso pequeno tinha nascido com uma má-formação em seu coraçãozinho.
Uma doença rara chamada estenose da válvula pulmonar. Logo em seguida, ele disse que os médicos falaram para não nos preocuparmos porque ele não estava demonstrando nenhuma descompensação e que, provavelmente, ele iria conseguir viver bem com isso...deveríamos apenas acompanhar em ambulatório com especialistas. 
Os médicos diziam que ele era pequeno, mas muito forte e esperto...não precisou ser entubado em nenhum momento...
Mas, como não me preocupar?? Tarefa difícil...para não dizer impossível!

O meu médico conseguiu me deixar internada por uma semana para eu ficar esse tempo perto de Rafael...mas eu realmente precisava... por conta de uma lesão na bexiga durante o parto, precisei ficar de sonda por uma semana...isso foi péssimo, atrapalhava na hora das visitas a Rafael e depois de tanto tempo com sonda, não sentia mais vontade de fazer xixi. Meu cérebro simplesmente esquecia de me avisar quando a bexiga estava cheia! Por Deus eu não ter tido outra infecção urinária!
Durante a semana minha pressão aumentou, tive insônia, calafrios, pesadelos e crises de choro...quem me visitava ou me ligava não imaginava o que se passava dentro de mim. Fui forte todo o tempo, só compartilhava minhas angústias com meu marido e minha mãe...

No dia em que fui conhecer meu Rafael...lembro que olhei ao redor e vi outros bebezinhos em situação pior...lembro de ter visto um bebê em especial que estava ao lado da nossa incubadora e estava fazendo fototerapia, com uma máscara em seu rostinho minúsculo...fiquei com tanta pena!! 
Meu Deus, crianças não deveriam passar por nada disso!
No dia seguinte, quando fui ver Rafael levei um susto muito grande. Lá estava ele na mesma situação que o bebê que tinha chamado minha atenção no dia anterior! Fiquei desesperada pra saber o que tinha acontecido, afinal ele estava reagindo muito bem até então... 
A médica me explicou que os níveis de bilirrubina no sangue dele subiram muito e bem depressa e que eles precisaram fazer um procedimento chamado exosanguineotransfusão durante a madrugada, mesmo sem nossa autorização, pois a icterícia grave que o acometeu poderia causar lesões irreversíveis em seu cérebro. 
Isso aconteceu por causa do meu sangue que é Rh negativo. Agora, além de triste me sentia culpada por todo aquele sofrimento que meu filho estava passando...
Graças a Deus, ele reagiu bem ao tratamento, fez fototerapia por 3 dias e ficou bom! Naquele momento vi a mão do Senhor estendida sobre meu pequeno...eu ainda não sabia, mas seria o primeiro de muitos milagres e cuidados de Deus na vida do meu Rafael.

Ele nasceu num sábado e na quarta-feira quando me levantei da cama, senti uma dor muito forte ainda da cirurgia...foi uma dor tão grande que comecei a chorar alto e a reclamar com Deus!
"Por que tudo isso estava acontecendo comigo?" 
O que me doía mais era a dor da alma...olhar para aquele berço vazio todos os dias, não ter a companhia do meu filho, não sentir seu cheiro, sua pele...tudo ao meu redor era diferente do que eu tinha sonhado. Já havia passado 4 dias e eu ainda nem ao menos tinha pego meu bebê no colo! Ah...como eu chorei!!
Então, Deus me deu um presente nesse dia...ao chegar na UTI a médica me perguntou se eu queria pegá-lo no colo, eu disse que sim...o coração acelerou, suei frio...será que eu saberia segurar um serzinho tão pequeno?! Ele nasceu com 1.770kg...mas perdeu e estava pesando 1.500kg!
Foi uma mistura de emoção e medo, alegria e desespero...tudo ao mesmo tempo! 
Mas quando a enfermeira o colocou no meu colo....tudo passou! Tudo ficou calmo e o tempo parou para nós naquele momento...momento tão esperado de tê-lo em meus braços e falar do meu amor por ele. 
Tão pequenino, frágil...um embrulhinho de gente no meu colo e era tanto amor em meu coração, que eu queria livrá-lo de todos os males. Meu marido o chamou pelo nome e ele tentou abrir os olhos...tentou muitas vezes abrir os olhinhos ao ouvir nossa voz...mas não conseguiu. Não tinha problema, ele sabia que era o papai e a mamãe ali com ele e que ele não estava sozinho nessa história de jeito nenhum!

Finalmente chegou o dia de eu ir pra casa...e posso dizer que não há nada mais triste e vazio para uma mãe que ir embora sem o seu filho. 
Saí da maternidade com um bonequinho nas mãos e lembro que a enfermeira do andar estava chorando...fiz amizades no hospital durante a semana e quando estava saindo uma faxineira me disse: " Não se esqueça de que os escolhidos têm testemunho pra contar!"
A mais pura verdade...Deus estava falando comigo! 
Tentei ser forte, tentei engolir o choro, tentei ser racional muitas vezes...mas só algumas vezes eu consegui.
Quando cheguei em casa não consegui mais e tudo o que eu queria era voltar pro hospital...minha vida havia ficado lá!

Nenhum comentário:

Postar um comentário